(Emanuel Madalena)
— Suplício
Empenhemos o rigor possível ao teatro do Inferno,
sabendo que o jogo eterno já começou
e o suplício antecipa as penas do Além:
haveria, antes de mais, que furar-lhe a língua puída
de toda a repetição, expurgar-lhe o céu do céu da boca,
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— Suplício
Empenhemos o rigor possível ao teatro do Inferno,
sabendo que o jogo eterno já começou
e o suplício antecipa as penas do Além:
haveria, antes de mais, que furar-lhe a língua puída
de toda a repetição, expurgar-lhe o céu do céu da boca,
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que trazia lasso no corpo, cobri-lo
com os restos da mãe e levar-lhos à boca,
para que sinta a adstringência do seu roubo
e tenha a presciência de um dióspiro imberbe
como última refeição.
para que lograsse ouvir, como novo, as suas próprias palavras
e se alegrasse com as patifarias da juventude,
emprenhando saudade pelos ouvidos
e lamentando o dia em que não morreu à míngua
numa cidade estrangeira.
não pararia jamais de sangrar a laje
e ver-se-ia nu perante todos os seus nomes.
Haveria então de se levantar o resto do homem
e pô-lo em desfile, atenazar-lhe os mamilos
e as pregas da barriga, purificando-lhe
o reflexo mais primeiro da vergonha.
o gume mais rombo do magarefe – só por rotina –,
e num dos olhos, por fim, o corte de um papel fino
onde tivesse cuspido os seus falsos testemunhos.
no cenho do carrasco, e já só teria forças para lamentar
o esquecimento que o varreria para cá da sua aurora:
uma última dor de mundo e a alegria de ver restabelecer-se
a ordem no seu próprio coração, para morrer em paz.